LANÇAMENTO: MULHERES LEITORAS, DAR A VER, DAR A LER - LEITURA E PINTURA (2021)
- Programa Reler&Fazer

- 29 de jun. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 30 de jun. de 2021

Há ainda quem acredite que livros, pelo menos alguns, são como o vinho: o tempo os deixa assentar, decantar, encorpar - no caso da bebida, sabores e odores; no caso dos livros, imagens e ideias. Esse parece, de fato, ser o caso de "Mulheres leitoras" (2021), recém-lançado pelo professor Santinho Ferreira de Souza (DLL/UFES). Fruto de sua pesquisa de doutorado, defendida em 2009, ganha finalmente o formato de livro e passa a estar disponível para o público interessado em pensar a leitura literária por caminhos alternativos e deslocamentos em relação às "questões da leitura".
O lançamento teve também a nobre missão de inaugurar a "Coleção Interdisciplinaridades", editada pelo Instituto Interdisciplinar de Leitura e pela Cátedra Unesco de Leitura, ambos baseados na PUC-RIO. O objetivo da coleção é viabilizar o compartilhamento de pesquisas sobre leitura nas mais diversas áreas de conhecimento: cinema, pintura, medicina, música, corpo, cidade etc. Afinal, não há saber que se construa sem leitura.
Assim, no espírito da "Coleção Interdisciplinaridades", o livro "Mulheres leitoras - leitura e pintura" abre essa linha de discussões, tendo como pressuposto o ideal da "educação estética", ou seja, da consideração de que a arte é uma prática cultural com potência para "refigurar o mundo", de constituir e reconstituir o imaginário que interfere tanto na produção da ficção quanto na da própria realidade.
Quanto ao livro em si, trata-se, como adverte Eliana Yunes na apresentação, de uma "viagem arriscada" que envolveu a quebrar de barreiras na relação pessoal entre o objeto de pesquisa e a personalidade do pesquisador que sobre ele se debruça. O texto surge como provocação, experiência, apropriação, aventura, partilha, interação, excesso, pertencimento, avançando plasticamente e "se desenhando na posturados corpos, na medida dos olhares, na disposição cênica, na expressão facial, entre outras condições que afetam o contexto e o contexto da prática". E não se enganem os distraídos: a aventura que se desenha como pessoal acaba por ser um ato político, de compromisso ao mesmo tempo com a afetividade e com a intelecção, de um "homem que se põe em marcha para dentro do quadro e para dentro da vida".
Outro olhar sobre o livro é lançado por Beny Ribeiro, que também na apresentação expõe a "dificuldade" que a tese problematiza: "é preciso entender as relações humanas cambiantes entre olhares, imagens e textos sem reduzi-las a uma identidade uniforme que anule as perspectivas que as deslocam em cenários movediços". Para tanto, "o autor busca compreender tanto as concepções e modos de ler representados na pintura, quanto os processos e valores de criação na pintura e na literatura, que fazem do ato da leitura no/do quadro uma experiência estética receptiva ao desconhecido. O autor também reflete sobre a condição feminina expressa nesse ato, na medida em que se envolve afetiva e criticamente com as perspectivas de leitura, com os papéis sociais da mulher que vê nos quadros e textos relacionados, sem a ilusão "racional" de esgotar a experiência estética, pois tem consciência de que o ato da leitura é uma tentativa, densa, mas uma tentativa, de aproximação dessa experiência".
Quanto à organização do livro, ela é dada em dois eixos. O primeiro consiste de exercícios de leitura de doze quadros escolhidos entre as pinturas representativas do período histórico que vai entre 1620 e 1944, em contraponto a apontamentos de natureza teórica sobre a mulher e a leitura nos quadros selecionados. O segundo eixo discute alguns princípios e desdobramentos que decorrem do primeiro movimento, assumindo na concepção de leitura o caráter de "aventura", de "experiência", de "força" capaz de reorganizar a "partílha do sensível" de que fala Jacques Rancière. O resultado é o encontro daquele "ponto abstrato e inconcluso" na passagem entre o Sujeito e seu Outro, e passa necessariamente pelos gestos da palavra e da pintura e por todas as possibilidades.
O autor, professor Santinho Ferreira de Souza é graduado em Letras-Português/Francês pela UFES (1972), mestre em Letras - Língua Portuguesa (PUC-RIO, 1977) e doutor em Letras - Estudos de Literatura (Brasileira), (PUC-RIO, 2009). É Professor Associado na UFES, e seus estudos recaem sobre produção em leitura e português, língua estrangeira. Militante das políticas públicas de leitura desde os anos 1980, participou ativamente de programas de estímulo à leitura e à formação de mediadores de leitura como o PROLER nos 1990 e como articulador no Espírito Santo da rede RELer de extensionistas e pesquisadores, que conta hoje mais de 30 pesquisadores em todo o País.
SERVIÇO
SOUZA, Santinho Ferreira de. Mulheres leitoras - dar a ver, dar a ler. Leitura e pintura. Rio de Janeiro: iiLer/PUC-RIO, 2021.
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